Por uma dessas casualidades do destino, pouco tempo depois da polêmica sobre as políticas de assistência aos moradores de rua em São Paulo, eis que ocorre um fato que nos faz refletir sobre a condição humana; sobre como somos todos um e navegamos no mesmo barco da existência; sobre como não se deve estereotipar os excluídos sociais.
As respostas que o ser humano dá podem ser inesperadas, diferidas, apesar dos esforços de um sistema explorador, violento e desumano para adestrá-lo e enquadrá-lo num padrão de comportamento individualista e egoísta.
Não é a primeira vez que uma pessoa extremamente necessitada devolve um bem valioso que tenha achado, mas os personagens e o contexto desse caso realmente nos fazem intuir uma espécie de 'conspiração do destino' para fazer a sociedade refletir. Abaixo, parte de um artigo que ilustra bem essa situação.
As respostas que o ser humano dá podem ser inesperadas, diferidas, apesar dos esforços de um sistema explorador, violento e desumano para adestrá-lo e enquadrá-lo num padrão de comportamento individualista e egoísta.
Não é a primeira vez que uma pessoa extremamente necessitada devolve um bem valioso que tenha achado, mas os personagens e o contexto desse caso realmente nos fazem intuir uma espécie de 'conspiração do destino' para fazer a sociedade refletir. Abaixo, parte de um artigo que ilustra bem essa situação.
As rodas da fortuna
Por Mateus Pichonelli
para Carta Capital
Não faz nem uma semana, São Paulo foi palco de um debate acirrado sobre o trabalho de voluntários que, durante a noite, distribuem sopas aos moradores de rua na maior cidade do País. A prefeitura ensaiou censurar o trabalho, movimentos sociais reagiram e o prefeito Gilberto Kassab, ciente da má repercussão do caso, proibiu a proibição. No calor da discussão, muitos leitores esclarecidos e bem agasalhados aproveitaram o momento para colocar para fora uma bronca ancestral. Muitos se queixavam da presença dos mendigos que, como pestes transmissoras de doenças, se espalhavam pelo caminho de casa.
“Em vez de dar o peixe é preciso ensinar a pescar”, discursaram os defensores do bom senso – que não por acaso têm o monopólio das varas, das redes, das iscas e dos barcos a motor. Um deles foi além: escreveu aos leitores deste site que a proibição da distribuição dos alimentos seria saudável para a economia paulistana. E explicou: com a ajuda dos voluntários, os legumes desapareciam das prateleiras, o que elevava os preços, gerava inflação e prejudicava o bolso de quem trabalhava e tinha condições de comprá-los.
A mais rica cidade do País queria coibir o sopão da madrugada |
Sem querer, o sujeito dava um retrato bem acabado do espírito utilitarista moderno, do qual os asseclas veem signos sem significantes (ou hieróglifos de uma linguagem estranha) toda vez que se deparam com expressões como “solidariedade” e “gratuidade”.
Parece ironia, mas a mesma cidade que ontem se negava a dar um prato de sopa aos seus moradores de rua assistiria, pela tevê, a história de Rejaniel de Jesus Silva Santos e Sandra Regina Domingues, habitantes de um viaduto do Tatuapé que encontraram uma bolsa com 20 mil reais e decidiram chamar a polícia. (O leitor preocupado com a inflação poderia se exasperar sabendo que os legumes seguirão em falta nas prateleiras, agora com um agravante: as notas de dinheiro seriam novamente injetadas na economia, cutucando com vara curta o fantasma da inflação).
Link curto para esta postagem: http://is.gd/corbem
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Imagem 1: Fotomontagem de @anjosujo
Imagem 2: Fora do Eixo/Flickr
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